Construção a seco mostra sua eficiência e rapidez em obras hospitalares

Gustavo Prata

Escrito por Gustavo Prata

19 de abril 2021| 15 min. de leitura

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Construção a seco mostra sua eficiência e rapidez em obras hospitalares

A construção a seco não para de crescer como uma alternativa tecnológica avançada, com altos ganhos de produtividade e de menor impacto ambiental. Talvez você não tenha percebido, mas já deve ter visto alguma obra desse tipo por aí. 

Isso porque, com construções mais ágeis, econômicas e sustentáveis, suas aplicações estão sendo cada vez mais diversificadas, em inúmeros tipos de edificações. 

Ultimamente, por exemplo, ganharam destaque obras de hospitais erguidos em tempo recorde através da construção seca, para o enfrentamento da Covid-19

O mundo inteiro ficou assombrado, ano passado, quando os chineses construíram, em apenas dez dias, um hospital pré-fabricado para mil leitos em Wuhan.

Não chegamos a tanto, mas você vai ver alguns exemplos incríveis de grande eficiência e rapidez também no Brasil, prosseguindo a leitura. 

Construção a seco: o que é e suas vantagens

Mas como funciona a construção a seco, quais suas principais características e vantagens? 

Como o próprio nome sugere, ela tem como característica marcante não utilizar água nas estruturas construtivas das edificações. A água é usada numa pequena quantidade apenas nas fundações, dispensando o emprego de argamassa e cimento. 

Temos nisso uma diferença enorme em relação às obras tradicionais, que usam e desperdiçam quantidades absurdas de água, algo completamente irracional e antiecológico. Mas não param por aí as diferenças.

Um sistema industrializado de construção

Estamos falando de um sistema de construção totalmente industrializado, no qual as estruturas como colunas, vigas, lajes e demais elementos são trazidos prontos de fábrica. Saem todos de uma linha de produção da construtora para serem montados no canteiro da obra. Como quem monta um Lego!

Dessa forma, sem a necessidade daquelas enormes quantias de areia, tijolos, cimento, vergalhões e outros materiais indo e vindo, melhora a organização do canteiro e a movimentação dos trabalhadores.

Outra vantagem é a tremenda diminuição de resíduos. Tudo isso resulta na redução significativa de tempo construtivo e dos custos. Isto é, embora possa parecer que se trata de um método mais caro, ele é na verdade mais econômico. 

Além disso, possui excelente proteção contra a umidade, maior proteção acústica e isolamento térmico contra frio e calor, com o benefício da otimização do uso de energia. São todos pontos que reforçam a característica da sustentabilidade da obra.

Setor com mais impactos

Como você sabe, a construção civil é tida como o setor que mais gera impactos ambientais. Sendo assim, há uma cobrança muito forte de sustentabilidade sobre as empresas em tempos de crise ambiental e mudança climática pelo mundo. 

Diante dessa demanda dos clientes por edificações menos impactantes, ganham muitos pontos as obras construídas a seco, inclusive do ponto de vista comercial. Sem contar os ganhos financeiros com a economia de tempo, mão de obra e desperdício zerado. 

Agora, para você entender melhor, vou lhe explicar os tipos de construção a seco. Você vai ver que um desses sistemas, pelo menos, pode ser de grande utilidade para o seu negócio. 

Tipos de construção a seco

Pode parecer, à primeira vista, que é tudo a mesma coisa, mas na realidade existem muitas diferenças de modelos e utilizações de cada sistema. Vamos a eles:

1. Steel Frame

Este é um método de construção a seco, também conhecido como Light Steel Framing (LSF), que utiliza estruturas leves de aço galvanizado como elemento principal. Elas formam o esqueleto que dá sustentação às paredes e telhados da edificação.

Obra com Light Steel Framing (LSF)O termo light ou ‘leve’ indica a leveza dos elementos em aço bem como a sua flexibilidade, pois são produzidos a partir de chapas de aço com espessura reduzida. É um sistema muito resistente às intempéries e chega a pesar cinco vezes menos que uma obra idêntica em alvenaria.

É um material que foi utilizado, por exemplo, no Terminal 2 do Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, na foto.

2. Drywall

Utiliza chapas ou placas de gesso fabricadas industrialmente, que já são bastante  empregadas por nossas construtoras. Os painéis assemelham-se muito às paredes de alvenaria e podem ser usados em paredes, forros, divisórias, móveis e outras inúmeras aplicações.

Numa parede, por exemplo, as placas são duplas, parafusadas nas peças metálicas de sustentação e com um enchimento no meio delas, que pode ser de lã de vidro. Depois de montadas, são recobertas com massa, para então receber a pintura.

Existem três tipos básicos de drywall, que se diferenciam pela cor usada para definir a sua aplicação:

  • Branco (ST): É o modelo mais simples (standard), usado em forros e paredes dos ambientes secos.
  • Verde (RU):  Incorpora silicone e aditivos fungicidas misturados no gesso, para aplicação nas áreas úmidas, como banheiro, cozinha e lavanderia.
  • Rosa (RF): Utiliza fibra de vidro na sua composição, sendo empregado nos ambientes com lareira e bancada do cooktop.

3. Paredes duplas de concreto

 As paredes chegam prontas da fábrica e são instaladas em duplas paralelas, responsáveis pela estruturação do imóvel. ligadas entre si por treliças. Isopor, concreto ou poliuretano expandido preenchem o espaço entre elas. 

É uma solução muito usada na construção de shopping centers e galpões, pois proporciona grande economia de tempo e recursos com os módulos pré-fabricados e são bastante fáceis de implementar. 

4. Painéis EPS

Este é um sistema que utiliza placas feitas de telas de aço galvanizado, unidas por treliças e firmadas no seu interior com EPS. Depois, é aplicada argamassa nessa estrutura.  Os painéis são totalmente autoportantes e indicados para serem montados em construções de até dois pavimentos.

Mas quando são utilizados como alvenaria de fechamento não têm limites de pavimentos e podem ainda ser empregados, com muitas vantagens, nas obras de reformas e ampliações. 

Apesar do uso da argamassa, é considerado um método a seco porque reúne muitas das características desse sistema. Entre elas, a pré-fabricação para montagem no local do empreendimento e a diminuição de resíduos.

Exemplos de construção a seco 

A construção a seco já vem sendo empregada há anos, numa escala crescente, em conjuntos residenciais, casas de alto padrão, edifícios comerciais, estabelecimentos comerciais, indústrias e prédios públicos.

A construção a seco já vem sendo empregada há anos, como em casas de alto padrãoMas, como referi antes, se notabilizou ultimamente por obras-relâmpago de hospitais com a finalidade de atender, prioritariamente, aos pacientes atingidos pelo novo coronavírus. 

Num país acostumado a ver obras de interesse público demorarem muito, não cumprirem prazos, isso tem sido uma grata surpresa para quem ainda não era familiarizado com a construção seca.

Veja quatro cases superinteressantes. 

Hospital Modular de Nova Iguaçu (RJ)

O maior hospital modular da América Latina começou a ser erguido na Baixada Fluminense pela construtora gaúcha Quick House, em abril de 2020.

O maior hospital modular da América Latina começou a ser erguido na Baixada Fluminense pela construtora gaúcha Quick House

Com capacidade total para 300 leitos, sendo 120 de UTI, destinados a pacientes de Covid, em 60 dias ele já estava com seus três pavilhões concluídos.

Para isso, 500 pessoas trabalharam dia e noite, numa atividade que movimentou mais de 45 carretas, com mais de mil toneladas de chapas de aço. No total, foram 12.800 metros quadrados de área construída em tempo recorde, ainda mais para os padrões brasileiros. 

O investimento do Estado foi de R$ 50 milhões. 

A Quick House atua fortemente em projetos e execução de obras públicas e para clientes como Petrobras, Shell, Odebrecht, Cyrela e Alphaville, entre outros. Usa o sistema de construção a seco patenteado pela empresa, composto de módulos metálicos padronizados e parafusados, que formam painéis autoportantes em aço galvanizado. 

Seus módulos também estão sendo exportados para a construção de hospitais em Porto Rico, por um parceiro norte-americano. 

Veja abaixo o vídeo de divulgação da obra:

Expansão do Hospital M’Boi Mirim – São Paulo

Este anexo com 100 leitos do Hospital Municipal M’Boi Mirim foi construído ano passado pela Brasil ao Cubo, a partir da técnica de construção modular off-site BR3. Foram montados 70 módulos produzidos na fábrica da empresa em Tubarão (SC), transportados em carretas até a capital paulista. 

No local da obra, junto ao Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch, os módulos foram acoplados na infraestrutura, preparada pela própria empresa. Com a ampliação, a unidade hospitalar somou 514 leitos destinados ao tratamento de pacientes do coronavírus, a maior estrutura com essa finalidade da América Latina.

Entre o início da fabricação e a conclusão da nova ala foram apenas 33 dias, sete a menos que o previsto. A unidade ocupa uma área total de 1.388,31 metros quadrados e foi construída com dois pavimentos que têm ligação com a edificação já existente por meio de passarelas modulares. 

Cada pavimento é composto por áreas de apoio contendo posto de enfermagem e de serviços, farmácia satélite, sala de utilidade, depósito de materiais de limpeza e copa de distribuição. A obra começou dia 24 de março de 2020, teve custo de R$ 13,5 milhões e foi viabilizada por empresas parceiras. 

A Ambev entrou com a gestão do projeto e com os custos de produção. A Gerdau forneceu o aço, principal matéria-prima para o método construtivo escolhido e o Hospital Israelita Albert Einstein com a expertise na gestão do atendimento. 

Veja aqui um vídeo sobre a obra.

Hospital Independência de Porto Alegre – Módulo Covid

Outra obra da Brasil ao Cubo, o Centro de Tratamento de Combate ao novo Coronavírus (Covid-19), em Porto Alegre (RS), também foi entregue num tempo recorde na história da construção hospitalar no Brasil: apenas 30 dias.

Construído de forma anexa ao Hospital Independência, foram investidos no módulo R$ 10,4 milhões com recursos da Gerdau, Ipiranga, Grupo Zaffari e Hospital Moinhos de Ventos. 

Centro de Tratamento de Combate ao novo Coronavírus (Covid-19), em Porto Alegre (RS)

A unidade de saúde tem 60 leitos, estruturados com a tecnologia de construção modular da Brasil ao Cubo, que lhe permite entregar as obras com velocidade quatro vezes maior que uma construção comum. 

Tanto que a empresa antecipou a conclusão do módulo hospitalar em sete dias dentro do cronograma oficial, causando espanto na capital gaúcha. Ele foi montado com 50 módulos encaixados que somam cerca de 842 metros quadrados de área construída. 

Após a pandemia, a unidade hospitalar, vinculada à Rede de Saúde Divina Providência, será entregue para a administração da Prefeitura e passará a integrar a rede pública de saúde.

Clique aqui para ver a timelapse da obra.

Hospitais de Campanha com construção a seco

As construções secas com estruturas modulares e metálicas também estão tendo uma utilização muito forte nos hospitais de campanha. Diversas instalações temporárias foram implantadas com urgência para desafogar o sistema de saúde, nos piores momentos da pandemia.

Hospital Municipal de Campanha de São Paulo no estádio do Pacaembu
Imagem: Sérgio Andrade/Governo de São Paulo

O primeiro foi o Hospital Municipal de Campanha de São Paulo, na foto, que começou a ser implantado no gramado do Estádio Pacaembu, em março do ano passado. Na época, havia cerca de 1.500 casos confirmados da doença . Poucos dias depois, na primeira semana de abril, já estava recebendo pacientes da rede municipal de saúde nos seus 200 leitos.

A responsável pela obra foi a Allegra Pacaembu, concessionária do estádio, que adotou o sistema industrializado de aço galvanizado para montar a estrutura metálica do hospital. Como é pré-fabricada, sua montagem é muito mais fácil e rápida, pois aceita diversos tipos diferentes de materiais de fechamento, como os painéis de concreto e drywall

Este e outros dois hospitais de campanha de São Paulo foram desmontados, quando a pandemia parecia ter arrefecido. Agora, com o recrudescimento dos casos, o governo estadual anunciou que novos hospitais de campanha serão erguidos. Certamente, com a mesma pressa do ano passado e a participação da construção seca.

Muito espaço para crescer

No Brasil, a Covid-19 alcançou proporções ainda mais dramáticas que em outros países, pela quantidade vítimas, com reflexos tremendos em todas as atividades econômicas. Numa circunstância dessas, empresas que adotam soluções de maior eficiência podem não apenas sobreviver como expandir seus negócios, em meio a crise. 

Como você viu, é o que está acontecendo com a construção a seco, um sistema que vem se expandindo em todas as áreas, inclusive no setor hospitalar, impulsionado pela pandemia. Com tantas carências no país, especialmente no setor habitacional e na infraestrutura pública, é um sistema com muito espaço para crescer ainda.

Então, espero que esse conteúdo tenha sido útil para você e quem sabe possa ajudar a incrementar seus negócios.  Obrigado pela leitura e até o próximo artigo.